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Poderá o trabalho de um board ser automatizado?

O futuro da força de trabalho vem sendo discutido há um tempo. A automação e as máquinas que pensam já estão substituindo tarefas humanas, fazendo inclusive com que as habilidades que as organizações procuram em seu pessoal sejam outras. Com isso em mente, a questão é: o que nos espera lá na frente?

Um estudo da McKinsey Global fala sobre o aumento da necessidade de habilidades como tecnológicas, sociais e emocionais. Sobre as últimas, o estudo diz que:

“Enquanto algumas dessas habilidades, como empatia, são inatas, outras, como comunicação avançada, podem ser aperfeiçoadas e ensinadas. O aumento da demanda por empreendedorismo e tomada de iniciativas será o que mais cresce nesta categoria, com um crescimento de 33% nos Estados Unidos e de 32% na Europa. A necessidade de liderança e gerenciamento de outras pessoas também crescerá fortemente.”

Se crescerá a demanda por habilidades tecnológicas, sociais e emocionais, a demanda por habilidades físicas e manuais deve cair. Com isso, trabalhadores de todos os lugares terão duas opções: aprofundam os conjuntos de habilidades existentes ou adquirem novas competências. Em outras palavras, para muitos será necessário redefinir a trajetória profissional.

E se as pessoas de modo geral devem redefinir carreiras, empresas também precisarão repensar como o trabalho é organizado dentro de suas organizações. Isso não apenas em um nível operacional, mas também em um nível executivo. É o caso, por exemplo, dos boards.

Automatização de board: como fazer?

Um artigo publicado na Harvard Business Review (Can a Board Member’s Job Be Automated?) inicia citando que os avanços contínuos em inteligência artificial (AI), automação de processo robótico e tecnologia como blockchain, podem trazer uma maneira completamente nova para o board exercer suas responsabilidades.

Garantir que a veracidade dos dados possa ser instantânea e descentralizada, permitindo que processos como a revisão de contas da empresa, relatórios financeiros e auditoria sejam em tempo real e imutáveis, é algo que, segundo os autores do artigo, Ravin Jesuthan e Shai Ganu, trará ganhos ao board.

Ravin Jesuthan é também autor do livro “Reinventing Jobs: A 4-Step Approach for Applying Automation to Work”. Para falar sobre a possível automatização de boards, Jesuthan e Ganu aplicaram a metodologia abordada na obra.

Eles começaram identificando as principais atividades realizadas pelos diretores não-executivos (ou NED). O passo seguinte foi categorizar cada atividade em repetitiva (como aqueles trabalhos de rotina) ou variável (que exigem criatividade, análises etc), identificando também o tempo gasto nas tarefas.

A partir disso, eles identificaram o papel apropriado da automação, isto é, se ela deve substituir os esforços dos diretores não-executivos para melhorar a eficiência e a eficácia, ou se deve aumentar os esforços do NED para melhorar o impacto.

Das atividades principais exercidas pelos diretores não-executivos que Jesuthan e Ganu trabalharam pensando na automatização de board, três são mencionadas no artigo. Duas delas são descritas a seguir.

Verificação de demonstrações financeiras (atividade que pode ser substituída pela IA)

Para garantir a conformidade com requisitos de regulamentos e relatórios, talvez não será mais necessário contar com auditorias interna e externa. De acordo com os autores do artigo, a tecnologia de contabilidade distribuída e os contratos inteligentes podem assumir o papel e trazer essa garantia.

“Por exemplo, com a tecnologia de contabilidade distribuída, as contas da empresa podem ser instantaneamente verificadas em qualquer lugar do mundo; provavelmente tornando redundantes as atividades de auditoria, conformidade e relatório do Conselho. As empresas também podem não precisar de reuniões anuais de acionistas para adotar contas financeiras e votar em resoluções-chave”, escrevem Jesuthan e Ganu.

Portanto, segundo os autores, com os avanços tecnológicos como esses, as tomadas de decisão poderão ser altamente descentralizadas.

Análise das propostas da gerência e participação das deliberações do board (atividade que pode ser melhorada pela IA)

Como explicam os autores, diretores não-executivos tradicionalmente revisam as informações fornecidas pela administração e exercem julgamento na tomada de decisões.

No entanto, o acesso a informações em tempo real para a tomada de decisões se tornou muito mais fácil com a contínua democratização da informação e do aprendizado de máquina.

O artigo cita que o rastreamento instantâneo e os relatórios de dados de desempenho, juntamente com análises preditivas, podem aumentar a tomada de decisões do conselho.

“Não é inconcebível que todos os boards do futuro possam ter pelo menos um membro que seja um algoritmo; o qual pode acompanhar as discussões na sala de reuniões, referenciar discussões anteriores e o contexto histórico e fornecer informações e recomendações em tempo real, conforme necessário”, diz o texto.

O que não será automatizado?

Nos dois exemplos acima, as responsabilidades dos NEDs no novo mundo do trabalho podem ser fundamentalmente diferentes. A análise realizada por Jesuthan e Ganu chegou à conclusão de que cerca de 48% das atividades atualmente realizadas pelos diretores não-executivos poderiam ser melhoradas pela inteligência artificial e pela automação, e cerca de 25% das atividades poderiam ser substituídas.

Logicamente, existem atividades nas quais a automatização do board não será possível. É o caso da definição da estratégia e da visão da empresa, que continuará a depender principalmente de NEDs humanos.

“Dada a natureza altamente variável deste trabalho e o prêmio significativo atribuído à experiência, afirmamos que os NEDs humanos continuarão a desempenhar esse papel, embora auxiliados por melhores dados e insights”, apontam os autores.

O que essas mudanças podem significar para o futuro do papel dos diretores não-executivos?

Assim como o que acontece com outras funções dentro de uma empresa, tudo que for repetitivo e puder ser feito por uma máquina, abre espaço para que profissionais invistam seus tempos sendo mais estratégicos.

No caso dos NEDs, eles serão capazes de se envolver mais profundamente nas tarefas “mais humanas” como a definição da estratégia. “Prevemos uma mudança das responsabilidades fiduciárias tradicionais para um papel mais consultivo”, opinam os autores. Nesse sentido, diretores não-executivos provavelmente conseguirão gastar mais do seu tempo como consultores internos do CEO e da gerência.

E, claro, os NEDs precisarão buscar conhecimentos adicionais, segundo Jesuthan e Ganu: “os NEDs também precisarão adquirir novas habilidades relacionadas à segurança cibernética, governança da economia de gig, ética tecnológica, economia comportamental, qualificação e requalificação de funcionários, gerenciamento de reputação e administração de uma organização orientada a objetivos”.

Agora, conte para nós: na sua opinião, a tecnologia será utilizada para automatização de board? Você acredita que ela poderá trazer ganhos ao Conselho? Deixe um comentário e compartilhe conosco sua opinião.

E para mais artigos como este, acesse o Glicando, o blog da Glic Fàs.

Créditos imagem: Unsplash por Adeolu Eletu

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Patricia C. Cucchiarato Sibinelli
  • Diretora Executiva
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